quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Nonsense


Sob a orientação do ministro da justiça e depois de exaustiva apuração sobre a morte daquele casal de idosos, encontrados no elevador do prédio residencial após o episódio do apagão, a brilhante polícia técnica do governo federal concluiu: o culpado daquele crime hediondo foi mesmo o Sr. Thomas Edison.

sábado, 31 de outubro de 2009

A penitência

Uníssonas, as vozes, a sentença proferiram: AAA...MÉM!
Estava decidido. A acusação de estupro, lá na paróquia, não procedia. E que assim seja louvado o.....(novo AAA...MÉM!).
Só esqueceram de avisar previamente à penitente que: "ajoelhou, vai ter que rezar".

domingo, 25 de outubro de 2009

Separação inevitável

É o fim, disse ele, convicto de sua decisão. Não foi preciso repetir.
A bala perdida antecipou o fim daquele casamento.

sábado, 24 de outubro de 2009

Serial killer

E, no consultório médico.... Enquanto aguardava as conclusões do psiquiatra, o serial killer cantarolava seus versinhos prediletos:

Criancinha malcriada
Pode um dia se dar mal
Vai que chega homem mau
Mata , esfola, e mostra o pau.

-Sr. João Cruel!
-Sim, doutor.
-Por favor, entre aqui na minha sala novamente. Eu já tenho o diagnóstico para o seu mal.
-Que bom, doutor! Graças a Deus! Eu sabia que o senhor ia resolver o meu problema.
-Sr Cruel, cheguei à conclusão que o senhor é portador de DBPM.
-E isso é muito ruim, doutor?
-DBPM, sr. Cruel, significa distúrbio bipolar misto. Isto quer dizer que o senhor tem variações bruscas de humor. Ora está muito eufórico ora entra em estado de depressão acentuada. E esse comportamento pode levá-lo a cometer atos impensados. Entendeu? O senhor só vai ter que tomar um remédio que vou prescrever e tudo vai ficar bem. Compreendeu? Estamos de acordo?
-Sim, doutor. Mas, puxa vida, agora o senhor me tirou um peso da consciência.
-Como Assim?
-Sabe, doutor? Antes de eu vir aqui na consulta, eu pensava que era um cara anormal. É que, quando eu matava aquelas criancinhas, eu ficava muito eufórico. Mas, logo em seguida batia uma tristeza que dava até dó, doutor. Eu não entendia o porquê daquilo tudo. Ainda bem que o senhor explicou direitinho essa situação. Agora já me sinto aliviado. Muito obrigado por tudo.
E sob os olhares atônitos do médico e da enfermeira, jogou a receita na lixeira e saiu do consultório assobiando seus versos preferidos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A triste sina de Maria das Graças

Moça de fino trato, por muitos era cobiçada. Mas carregava uma tristeza latente, difícil alguém enxergar. Na infância com pais drogados, o incesto teve que suportar. Na adolescência agoniada, o estupro não tardou a chegar.
Pobre Maria, hoje mulher de vida fácil, do destino não pôde escapar. Tornou-se Maria Desgraça, a cafetina daquele lugar.

Livre arbítrio

Hoje faz vinte e oito anos, seis meses, cinco dias e algumas tantas outras horas desde que fui condenado e aqui me encontro cumprindo uma pena que, a bem da verdade, ainda não me convenci se fiz por merecê-la. Dizem que é assim mesmo. Mea culpa, não é uma expressão muito ouvida por essas bandas e se porventura acontece, decerto o indivíduo já terá completado mais de dois terços de sua sentença; este é um processo longo, de evolução paulatina, onde cada um faz o seu próprio itinerário. Tenho procurado me ajustar às normas que me foram impingidas neste ambiente insalubre, soturno e pegajoso, onde até mesmo a mais ingênua das almas, que por aqui habita, preza por acatar; é uma questão de sobrevivência. Na verdade, às vezes tenho a nítida impressão de que este lugar é o verdadeiro limbo, sinto que estou a um passo do inferno. Almas pagãs, que não me deixam duvidar, são aqui em número quase que absoluto. É bem verdade que algumas delas já se encontram em estágio de passagem para um plano mais evoluído, mas essas são minoria. Ainda não tenho plena convicção em qual dos dois grupos me encaixo. Com frequência me questiono se a intensidade do crime e da pena que me imputaram, justifica a angústia e a revolta das quais não consigo me desvencilhar; se o veredicto procede ou se os verdadeiros culpados seriam aqueles inconsequentes progenitores que não me possibilitaram ter uma vida factual e profícua, nem me provieram com mecanismos suficientes para que um dia eu pudesse fazer as minhas próprias escolhas.

No início, logo após a condenação, fui apossado por uma sensação de que eu me encontrava em um barco desprovido de mastro e velas, à deriva num mar negro, agitado e tempestuoso, onde monstros-marinhos com suas grandes garras-metálicas investiam contra mim, cerceando de maneira taxativa o meu ímpeto de seguir a viagem que me foi previamente determinada. Até hoje, essa visão aparece e me visita com certa regularidade. Acredito que ainda terei a sua companhia por um longo tempo. É um verdadeiro pesadelo, mas urge a convivência porque de uma forma ou de outra, sinto que este é o caminho que vai me levar de encontro à minha verdade.

Em alguns momentos reflexivos, vêm à tona imagens que me são familiares: meu pai, minha mãe, meus irmãos, os amigos - na verdade não sei se realmente algum dia os tive - e até mesmo os momentos de intimidade que me foram subtraídos sinalizam como se tudo aquilo fizesse parte de uma realidade próxima, mas ao mesmo tempo efêmera. É um flashback que me conduz de volta a um tempo peculiar que eu deveria conhecer e paradoxalmente me leva a um universo até então inexplorado. São pensamentos recorrentes que alimentam o meu imaginário e mantém vivos os sonhos e esperança de uma liberdade desejada e ao mesmo tempo tão distante. Todo esse processo demora apenas uma fração de segundos, mas que no limbo em que eu vivo conta uma eternidade. Nessas horas é inevitável pensar sobre o tempo passado e as oportunidades perdidas. Determinados dias imagino situações que provavelmente teriam me marcado de forma significativa caso eu não me encontrasse nesse penoso processo evolutivo. Sei que viver assim é difícil, mas aprendi que a vida, mesmo em condições adversas, é soberana e tem que ser preservada.

Em outras ocasiões surgem lembranças de uma infância rebelde, da juventude irresponsável e o primeiro contato com as drogas; da descoberta do sexo e da primeira mulher amada e outras nem tanto; da bala perdida a mim dirigida pelo marido traído; dos bons tempos da faculdade; do dia da formatura com a presença da família e amigos confraternizando; do primeiro emprego e a demissão por justa causa; do casamento e os filhos que não vingaram; da infidelidade com o divórcio litigioso; da pensão judicial decretada e não cumprida; da prisão efetuada e o por fim o contato com as infelizes almas que me fazem companhia até os dias de hoje. É a história de uma vida que nem sei se ao menos posso dizer que vivi.

Por um breve tempo permaneço calmo e ligado a esse roteiro. Enfim, é o meu filme; há que se refletir sobre ele. Mas logo a seguir retornam à cena as malditas garras que estão sempre a me afrontar. Novamente o infernal barulho metálico coloca meus sentidos em alerta máximo e prontamente inicio uma luta feroz tentando preservar um pouco da vida que ainda me resta; puro instinto. Será o início do fim? Desta vez parece diferente. O monstro ainda está lá e a luta continua, mas agora consigo vislumbrar em meio àquele oceano, que um dia já teve seus dias de calmaria, uma luz difusa e escarlate. Avidamente nado em direção a ela, mesmo sem saber o que me espera. Após tanto esforço, sinto no corpo uma intensa dor que me dilacera a carne. Tento desesperadamente me livrar das garras, mas finalmente elas me dominam. O escarlate do oceano se intensifica, a minha visão turva e num ato extremo busco o ar que já começa a me faltar. Grito, mas a tentativa é em vão; ninguém me ouve. É o fim.

Anos se passaram sem que eu compreendesse com clareza a origem de todo esse processo. Hoje, a única certeza que tenho é o quanto eu gostaria de ter tido a opção de poder justificar a pena que me imputaram. Ao menos teria sido por livre arbítrio. Mas esse direito me foi negado quando vocês cometeram aquele criminoso aborto.


Obs: Este conto foi publicado originalmente no livro de antologia do Beco do crime –Ed. Multifoco (lançamento-Bienal do livro Rio de Janeiro-19/09/2009)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Bienal do livro

Entre os dias 10 e 20 de setembro ocorrerá a 14ª Bienal do livro no Rio Centro na cidade do Rio de Janeiro. Precisamente no dia 19 de setembro às 17 horas (estande Beco do crime, setor laranja, ao lado da sala de imprensa) acontecerá o lançamento da primeira antologia do Beco do Crime, organizada pelo nosso matador-chefe Andre (sem acento) Esteves que é autor de dois excelentes romances policiais: o primeiro é O Mistério da 13ª letra (sucesso de venda em todo o Brasil), e o segundo (lançado em julho 2009) que é Assassinato na Vila Boêmia (também excelente). A antologia e´composta por vinte e dois contos policiais de diversos autores, dentre eles, um é de minha autoria (deram um tiro para o alto e eu acabei caindo lá). Se vocês não tiverem nada para fazer nesse sábado de 19 de setembro, compareçam lá no estande do Beco do crime e aproveite para conhecer alguns matadores; mas não se preocupem porque nesse dia ninguém estará armado. O preço da antologia será de apenas 25,00 reais se for adquirido no estande, com direito a autógrafo do autor (s) de sua preferência.

domingo, 14 de junho de 2009

Uso e desuso

De tanto frequentar salas de bate-papo na internet, um dia descobriu-se solitário, sem ter quem o escutasse. Pressentiu então que a mudança, mais cedo ou mais tarde, chegaria; já era capaz de sentir fisicamente a evolução das transformações. Sabia também que as divergências entre Darwin e Lamarck era apenas uma questão de vaidade. Por via das dúvidas, antecipou-se e adquiriu um aparelho para surdez.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Preconceito

O e da primeira sílaba soa fechado, e também aquele da penúltima sílaba; tudo por imposição do idioma. E a consciência humana, finalmente conseguirá se livrar dessa sina?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Recorrente

Os sonhos eram cada vez mais frequentes e repetitivos. Por vezes chegava a sonhar acordado. Frente ao que sentia, sempre que seu subconsciente era visitado por eles, a leitura do Inferno de Dante lhe soava como uma canção de ninar. Naquela madrugada fria e soturna, mais uma vítima foi encontrada no labirinto do beco.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mistério no túmulo

No túmulo, a lápide definiu:
“Aqui jaz quem já morreu”.
Irado, o cataléptico sumiu.

Inconsequente

Nasceu, cresceu, ofendeu.
No deleite, procriou; ignorou.
No anonimato, pereceu.

domingo, 10 de maio de 2009

Estigma

Optou por um trabalho de vida fácil, que na verdade era muito duro, e coloca duro nisso. Mas, cicatrizes à parte, literalmente nunca permitiu que aquela profissão lhe estigmatizasse a honra. Eternamente gueixa.

sábado, 9 de maio de 2009

Dos objetivos

Os meios que precederam o fim, por fim lhe afloraram os tormentos.

Carta a Machado de Assis

Ilmo senhor Joaquim Maria Machado de Assis.
As razões que me levam a redigir esta missiva são duas. Uma primeira, de conteúdo auspicioso e porque não dizer de júbilo, que decerto está causando rebuliço entre aqueles que se deixam embevecer pelas obras dos grandes escritores. E uma segunda, onde o alvissareiro passa ao largo da razão; se bem me faço entender. Cada uma, no seu devido tempo, será abordada para melhor elucidar as suas, das razões é claro, intenções.
Meu caro Machado, tu que foste um mestre da psicologia humana, haverás de me perdoar pela irreverência deste tratamento na segunda pessoa, que ora me permito utilizar. Na verdade, se assim o faço, é por acreditar que essa pretensão é capaz de me fazer aproximar da tua aquiescência para com as minhas intenções, uma vez que nunca tomaste conhecimento deste “louco” que ora ousa dirigir-te a palavra.
Tantas são as emoções que me arrebatam neste momento, que terminei por me esquecer das apresentações. Digo agora, sem receios, em primeira intenção o que não sou, e por fim, o que sou. Tenho a plena convicção de que não me encaixo no grupo de indivíduos que por razões mercenárias ou profissionais fazem da literatura um meio de vida. Tampouco me aproximo daqueles passionais que transcendem a realidade ficando apenas à mercê de um fútil mundo literário onde apenas o imaginário prevalece. Um ou outro, não me cabe analisar. Deixo este encargo a teu julgamento, porque em se tratando de assuntos que envolvem a alma humana, tu és um verdadeiro “connaisseur” (permito-me utilizar o francês porque sei que tu eras um amante deste idioma). E para concluir este capítulo, o das apresentações, te deixo saber que sou um cidadão, um homem, enfim um chefe de família e pai de dois filhos que ultimamente anda deveras preocupado com o rumo e os caminhos tortuosos que nossa língua portuguesa está a percorrer. Agora mesmo já te explico os motivos de tanta agonia.
Para um bom entendimento do que vou expor, é necessário voltar no tempo para que possamos estabelecer um paralelo com o que ocorre nos dias de hoje. Senão vejamos: em tempos idos, prevalecia neste país uma doutrina de ensino, da qual tive ainda o privilégio de ser contemplado, onde o aluno era simplesmente aluno e o professor exercia soberanamente a sua função, ou seja, ensinar. Lembro-me que nessa época, ao aluno do ensino básico era dada a oportunidade de ler textos de escritores consagrados da literatura de língua portuguesa (foi quando li, pela primeira vez, vários de teus textos) e muitas vezes os líamos dentro da sala de aula, quando então éramos arguídos pelo professor, que assim podia avaliar o ganho de compreensão e o raciocínio de seus alunos, além de estimular o gosto pela leitura, fator de suma importância na formação acadêmica de qualquer indivíduo. Por outro lado, a distância entre aluno e professor era mantida e respeitada dentro de limites aceitáveis; a palmatória, castigos mais severos, tal qual ficar ajoelhado sobre o milho, esses já haviam sido abolidos como forma de punição ao aluno mais rebelde. Nada mais justo, afinal de contas mudanças se faziam necessárias para acompanhar conceitos mais modernos em um mundo em constante evolução. O Homem viajava até a lua; um pouco antes disso surgia aqui no Brasil, a televisão - máquina de fazer malucos e transformar cidadãos quase normais em idiotas (esse conceito não é meu, porém concordo plenamente com ele) - e outras modernidades que com certeza não fizeram parte de teu tempo. E mais, da década de oitenta (se a memória não me trai, foi nessa época) para os dias atuais, uma outra fantástica máquina, o computador, vem ganhando espaço dentro do país com uma velocidade de fazer inveja a qualquer maratonista. Trata-se de um aparelho que tem por finalidade facilitar a comunicação entre as pessoas, a ponto de dois indivíduos poderem estabelecer um diálogo em tempo real, mesmo estando eles em polos opostos no planeta (para simplificar e facilitar o teu entendimento, basta imaginar um telégrafo e suas utilidades; isto feito multiplique por mil e tu verás a serventia de um computador).
Em decorrência do acima exposto podemos dizer que muitas coisas foram eficientes em sua evolução natural e outras nem tanto, por exemplo, a relação aluno-professor e vice-versa está por muito comprometida, a tal ponto que frequentemente somos notificados que professores foram ameaçados fisicamente por alunos. Por outro lado muitos desses mestres não se dão o devido respeito, ao participarem de rodas de alunos, facilitando uma aproximação extracurricular de natureza duvidosa. Aquela televisão de que te falei não desempenha, na educação, um papel efetivo, uma vez que os programas educativos são apresentados em horários completamente descabidos com relação ao tempo diário disponível dos estudantes. O tal computador, que poderia ser uma arma valiosa no ensino, é muito mal empregado nas escolas, mesmo naquelas que o possuem. Para agravar o problema, a linguagem usada como veículo de comunicação neste aparelho é tudo que se possa imaginar, exceto a língua portuguesa. Decerto haverás de me perguntar quais as providências que as autoridades constituídas tomaram em relação a esta desordem. Antecipadamente já te posso responder que nenhuma. Para não ser completamente injusto, conto que eles resolveram fazer uma reforma ortográfica na nossa língua, reforma esta, se a memória não me trai, já vem sendo programada faz pelo menos vinte anos (não penso que esta seja a solução para tais problemas). Para complementar este caos, não poderia deixar de citar o quanto os professores andam insatisfeitos com suas remunerações (tenho pena dos coitados, andam a mendigar); na verdade posso te dizer que ao longo de toda a minha existência, nunca ouvi da boca de qualquer governante ou político ao menos a intenção honesta de resolver esta justa reivindicação.
E onde posso eu entrar nessa história que estás a me relatar? Esta é a pergunta lógica que tu haverás de fazer depois de tudo que te passei.
Confesso-te que o motivo real de pretender te envolver nesses problemas é por acreditar que somente alguém dotado de uma inteligência superior possa nos ajudar (esse superior não faz referência à tua condição atual moradia), e mesmo porque tu foste um daqueles que sempre amou e fez questão de preservar a nossa língua, durante o tempo que passaste aqui na Terra. O que te peço é simples. Que de alguma forma descubras um meio de nos enviar alguma mensagem elucidativa para que possamos resolver os problemas os quais relatei, porque com os intelectuais daqui a esperança já não resta. Caso não esteja ao teu alcance resolver pessoalmente a questão, peça que Ele interfira a nosso favor; não sei como funciona a hierarquia aí em cima, mas de qualquer modo acredito que tu desempenhes uma nobre função, bem próxima a Ele, quem sabe um assessor de imprensa ou qualquer coisa que a isto se assemelhe.
Se por alguma razão receberes esta carta (missiva) com atraso além do previsto, não te surpreendas, isto porque os funcionários dos Correios entraram em greve por mais uma vez. Além disso, quando lá estive, questionaram o teu endereço e o CEP. O que tenho sob a minha guarda é: Rua dos Mestres, Ala dos Romancistas, Bairro Paraíso, Céu. CEP: nº infinito (faça a correção caso eu tenha me equivocado).
Sem mais, humildemente te peço que recebas estas mal traçadas linhas e dentro do possível responda num curto espaço de tempo.
Rio de janeiro, 19 de novembro de 2008. Beto Guimarães
Em tempo: Quase me esqueço de mencionar que por aqui estamos “festejando” cem anos do teu passamento. Muitos eventos literários estão agora a lembrar de ti e da tua inesquecível obra.

sábado, 2 de maio de 2009

O condenado

Ao longo de toda a sua fracassada vida tentou parodiar Cesar ( Caius Julius Cesar- 47 A.C –“Veni, Vidi, Vici” ).
Como sempre, chegou atrasado; perdeu.

domingo, 26 de abril de 2009

Pró-ecologia

Após várias tentativas e desistências parou de fumar. A cada maço não fumado, a saúde e o bolso agradeciam. Em pouco tempo economizou o suficiente e saciou um último desejo; seu velório estava repleto de flores orgânicas.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Amor Platônico

Ficaram só nas reticências e nunca chegaram ao ponto final.

Os iniciantes

Ironicamente, ela virou a cabeça pra trás e disse:
-Acabe logo com isso ou me libera, meu bem; eu não posso ficar o dia todo à sua disposição.
A seguir ouviu-se o estampido de um tiro. Também era a primeira vez dele
.

Minicontos

O que é um miniconto?
De um modo geral podemos definir o miniconto, microconto ou nanoconto, como sendo um microtexto que, segundo tentativas ainda "frustradas", não pode ser qualificado como gênero literário. No seu alcance máximo, poderia representar um estilo dentro do gênero conto ( do ensaísta).
O conceito original do microconto é que ele seja elaborado dentro de certas normas, com o objetivo de enquadrá-lo dentro de um padrão compreendido entre um mínimo de cinquenta letras e um número reduzido de palavras (no máximo duzentas), embora essas diretrizes ainda não estejam completamente estabelecidas; há controvérsias. Vale observar que apenas esse parâmetro quantitativo não é o bastante para a sua definição. Seria conveniente citar outras teorias já exaustivamente citadas, onde a narrativa tem que ser preservada para que o texto, mesmo sendo mini, tenha a característica de conto(do ensaísta).
Por outro lado é necessário agregar à narrativa elementos como Ação, Personagem, Integração, e Totalidade de Significação. O exemplo abaixo é o miniconto Assim, de Luís Rufatto, que caracteriza de modo enfático toda essa teoria ( citação de Marcelo Spalding- Artigo "a Narratividade no microconto", no site www. veredas.art.br).
Assim
Ele jurou amor eterno
E me encheu de filhos
E saiu por aí
Deste modo a ação está garantida pela presença dos verbos jurar, encher e sair. A sucessividade das ações é graficamente marcada pela conjunção "e": primeiro a personagem jurou, depois encheu de filhos, depois sumiu. Esta sequência evidencia, ainda, a integração entre uma ação e outra. Quanto aos personagens, é possível apontar um protagonista (ela, a mãe) que também faz papel do narrador, um antagonista (ele) e os coadjuvantes (filhos). A significação, ainda que leve ao extremo a teoria do iceberg de Hemingway, está preservada na sua totalidade: uma mulher desiludida conta a forma como o marido jurou amá-la para sempre e, depois de mudar sua vida e transformá-la em mãe de várias crianças, sumiu. ( citação de Marcelo Spalding - artigo "a Narratividade no microconto", no site http://www.veredas.art.br/).
A título de ilustração, podemos ainda citar um outro exemplo de miniconto que é considerado o mais famoso texto minimalista, do guatemalteco Augusto Monterroso: "Quando acordou o dinossauro ainda estava lá", escrito com apenas trinta e sete letras (Freire-2005). E mais, uma citação do físico, matemático e filósofo religioso francês Blaise Pascoal (1623-1662, Wikipédia, a enciclopédia livre), quando ele, em trecho de uma carta endereçada a outrem, diz: "Não escrevi esta carta mais curta, exclusivamente por falta de tempo". Embora essa frase não tenha a pretensão de ser um miniconto, ela caracteriza sobremaneira a dificuldade de se escrever de modo minimalista e o fato de que, mesmo que inconsciente, Baise Pascoal já fazia, naquela época, uma apologia do minitexto. Além disso, não custa nada enfatizar que ao escrever um miniconto, temos que ter por premissa o hábito de sempre enxugar o texto ao máximo, isto por motivos óbvios, e também porque o papel não é divã de psicanalista , onde lá se deita e sai vomitando as palavras a esmo. Lembre-se que, independente do número de letras ou palavras, o seu leitor merece respeito e que ele muitas vezes paga para ler seus textos (do ensaísta).
Portanto, acredito ser o acima exposto suficiente para o entendimento do que venha a ser um miniconto e assim estimular àqueles que estão apenas iniciando nesse futuro, ainda que "estilo", gênero literário.
Nota do ensaísta:
Este ensaio, notoriamente teve como inspiração o excelente artigo de Marcelo Spalding denominado "a narratividade no microconto: estudo narrativo da obra dos cem menores contos brasileiros do século", do site http://www.veredas.art.br/.

quarta-feira, 18 de março de 2009

De Boca a Boca

Não foste tu que imploraste por liberdade?
Pensavas estar impedida de falar em tua própria morada,
onde a angústia daquele silêncio ensurdecedor tua boca calava?
Por que agora te lamentas? Não gostaste do que te mostraram?
Ou foi mesmo aquela primeira porrada que em ti ensaiaram?
Afinal não precisavas ao mundo chegar, berrando e a todos alarmar.
Ora, se só um tapinha foi, por que tanto a reclamar?
Sugiro que calada permaneças e que assim fique bem entendido.
Observe e aprenda; tua hora há de chegar.
Lembro-te ainda que à tua morada ansiarás retornar.
Por ora, dessa liberdade apenas sinta o sublime paladar.

Hoje, olho-te e vejo uma boca risonha a se mostrar.
Mais birrenta e falastrona com muitos impropérios a bradar.
Fantasias brindam teu momento singelo e singular.
Ah! Inocentes e incautos. Por certo haverão de perdoar.

Encontro-te agora e noto mudanças evidentes.
Uma nova vibração, um brilho, uma sexualidade iminente.
Audaciosas palavras por ti deverão ser proferidas.
E junto a elas teus devaneios serão esvaídos;
De fato uma descrença descabida.
Meias palavras não te bastam, notória é tua boca altiva.
Cautela urge; bocas rebeldes advêm fatídicas.
Inebriantes ósculos mil bocas sedentas te suplicarão.
Momento único, pura orgia. Mágica química da transformação.

Boca madura e destemida, teu caminho já se faz notar.
O fruto de tua existência marcante clama por despontar.
De teu encargo maior, bocas outras vão carecer.
Atenção redobrada! É vida nova a transcorrer.
Não te atormentes caso insegurança venhas revelar.
Fases como essa haverás de passar.

Boca anciã, desditosa e exilada.
Ninguém te escuta, ninguém te ouve, ninguém te fala.
O tempo urge, a vida passa e a tua boca cala.
Ensandecida, tentas ainda te aprumar.
Alento incapaz, boca insípida e velhusca!
Ao menos fosses capaz, o que te resta é orar.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Homem mais rico mundo

- Pai, como é que a gente faz pra ganhar muito dinheiro?
-Ora filho, a gente trabalha, trabalha e ....

- ...... e trabalhando muito, a gente consegue comprar tudo que a gente quer, todos os brinquedos, tudo, tudo, tudinho mesmo ?

- Sim, meu filho. Só trabalhando muito é que a gente consegue essas coisas.- Na verdade nem ele mesmo tinha plena convicção do que estava respondendo ao filho. Mas, como poderia dizer para um garoto de seis anos, que muitas vezes não era assim que a banda tocava. Que havia muita gente que trabalhava uma vida inteira e não conseguia adquirir a casa própria, não podia pertencer a um plano de saúde privado, nem tampouco conseguia assistência de saúde mínima do governo, que o sistema era muito mal administrado; que os filhos desse mesmo tipo de pessoa trabalhadora, nem sempre tinham acesso a um bom ensino básico ou fundamental. Puxa vida, refletiu: “já estava com trinta e cinco anos e desde que era garoto a mesma história vinha se repetindo. No que se refere às necessidades básicas do indivíduo, esse país não mudara quase nada, em alguns aspectos até piorara. Talvez por isso é que muita gente que tinha a cabeça fraca, acabava partindo para o crime e se corrompendo, deixando-se levar por má influência, etc, etc, etc”. Não, não podia ainda falar para o menino dessas coisas, mesmo ele sendo uma criança muito inteligente. já sabia ler quase tudo. Não era a hora certa, seria prematuro demais.

- Mas pai, e como é que a gente faz pra ser o homem mais rico do mundo?
- Ih, filho! Aí a história já muda um pouquinho, não basta só trabalhar... – novamente estava ele numa sinuca de bico. Pensou: “para um homem ficar rico, é necessário abrir uma conta no exterior, claro que nunca no próprio nome, ir remetendo dólares aos poucos e....,” mas, da mesma forma que na resposta anterior, chegou a conclusão de que não poderia falar dessa quase verdade nacional para o filho.
Percebendo que aquela conversa ia longe e que as perguntas estavam ficando cada vez mais difíceis de serem respondidas, disfarçou, olhou para o relógio e disse: - Que tal a gente sair pra dar uma volta de carro?

- Opa! – exclamou o menino.- No que a mãe dele também concordou, pois a filha caçula só dormia tranquila com o balanço do carro. Saíram e rodaram sem destino através de ruas e avenidas. A meio caminho, com o silêncio reinante no interior do veículo, o pai pensava: “de onde esse garoto tirou essa fixação por dinheiro. Eu não sou assim. A mãe, um pouco mais aficionada, mas também não chegava ao exagero. A menina caçula vinha se mostrando de uma maneira completamente despojada em relação a bens materiais; não podia ver uma criança pobre que queria dar tudo o que tinha e morria de pena dela. Ah! isso a genética deve explicar, pensou consigo mesmo, para não despertar a menina que já cochilava, e.....” quando nesse momento o garoto, que já fazia um bom tempo estava calado, falou:- Pai, esse tal de Ed. deve ser o homem mais rico do mundo, não é? –surpreso com a pergunta e sem nada ter entendido, retrucou: - Que Ed. é esse, filho?
- É que estou olhando esses prédios aí na rua, e em todos eles tem o nome desse Ed... . Pode ver se em todos os prédios não tá escrito Ed.. Marques, Ed. Dantas... , o nome do Ed está em todos os prédios. Puxa vida! Eu acho que ele é o dono de todos eles, e que ele deve ser o homem mais rico do mundo; você não acha, pai?- Até que fazia sentido esta associação de ideias para um garoto daquela idade. Afinal de contas, Ed poderia ser abreviação de Edmundo, Edílson e tantos outros nomes. Mas, mesmo assim e apesar de toda a lógica do menino, o pai virou na primeira esquina e voltou para casa.
Observação: O autor deste e outros textos postados neste blog ainda está tentando se adequar à reforma ortográfica que entrou em vigência em janeiro deste ano de 2009.








sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A confissão


- Padre, eu pequei contra Deus e contra os irmãos.
- Quais são os seus pecados, meu filho?
- Ah, padre, em primeiro lugar eu desejei a mulher do meu vizinho. Depois eu pequei contra a castidade; o senhor sabe, eu estava me preservando pro casamento e.... O senhor sabe, né? E depois disso tudo ainda....
Com toda a autoridade que Deus e a igreja lhe conferiram, disse o sacerdote:
- Não, não. Vamos por partes, meu filho. Esses dois pecados, que aliás são muito graves, correspondem, na ordem que você confessou, ao sexto e ao nono mandamentos, respectivamente.
- Pois é, padre, eu estou arrependido e peço perdão.
- Meu filho, para cada um desses pecados você deve rezar dez ave-marias e dez pai-nossos. Vá em paz e que o Senhor o acompanhe.
- Mas padre, ainda falta um pecado.
- Sim, meu filho, prossiga.
- Como é do seu conhecimento, eu trabalho em uma empresa junto à bolsa de valores, e eu terminei por dar um grande desfalque no mercado financeiro. É a tal coisa.... Bancar uma mulher fina como aquela, só com muita grana, não é mesmo?
- Ah, meu filho. Esse pecado diz respeito ao sétimo mandamento e não adianta você fazer qualquer penitência. Eu acho que nesse caso, nem eu nem mesmo Ele pode interceder.
- Como assim padre?
- Eu aconselho que você confesse para as autoridades e aguarde as consequências. Penso até que você pode ser absolvido.
- O senhor acha mesmo, padre?
- Com certeza filho. No momento, o supremo tribunal de justiça está trabalhando com um pacote promocional e tá absolvendo todo mundo. Eu diria que o supremo está mais ”benevolente” do que aquele lá de cima. Vá em paz e que o Senhor o acompanhe.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Último apelo

Assim te vi
Fonte de inconteste beleza e energia na plenitude da juventude,
onde indefeso e carente, saciava minha fome sorvendo tua energia.
Já satisfeito, desfrutava de proteção na singeleza de tuas formas macias e aconchegantes.













Assim te desejo
Com carência redobrada, confesso-me agora dependente,
de forma explícita é verdade, dos caprichos e tuas vaidades.
Tua forma presente, de beleza singular, me incita a desafiar
o imponderável que meu deleite ainda ousa contemplar.

Assim te vejo
Íntegra, sem puritanismos. Bela, única, sem ofuscar;
desejo-te simples assim, nada que transcenda o essencial.
Não permitas que a vaidade prevaleça sobre o teu natural.
Êxtase findo, absorvas apenas o que a vida tem pra te ofertar.

Assim te peço (como último apelo)
Que te cuides e te preserves. Ponderação carece de aflorar.
Tempo de loucuras e exageros são aventuras desmedidas,
onde cancros não almejados podem estar a te espreitar.
Belas e desejáveis tetas, não te faças de desentendida,
pois decerto ainda poderás meus eróticos sonhos embalar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A primeira vez

Compromisso agendado. Acordou bem cedo, tomou uma ducha, lavou os cabelos e maquiou-se sem exageros como era seu hábito. Estava pronta para aquele encontro que com certeza marcaria a sua vida para sempre. Enquanto aguardava, foi invadida por pensamentos que nunca antes havia experimentado. Como teria sido a primeira vez de suas amigas; ficaram tão apreensivas quanto ela ou encararam aquilo com mais naturalidade? Será que fora muito doloroso e o que mais passara pelas cabeças delas naquele momento tão importante de suas vidas? Achou melhor ignorar aquelas ideias negativas e imaginar que tudo aconteceria da melhor forma possível.Hora de partir. Dirigiu-se para a garagem, entrou no carro, mirou-se no espelho retrovisor; com a ponta dos dedos retocou o excesso de batom que havia manchado alguns dentes e foi quando se lembrou que não os tinha escovado.- Como podia ter esquecido! O que ele iria pensar? Decerto que era uma porca. – Retornou à casa, dirigiu-se ao banheiro e tratou de fazer aquela limpeza. Escovou, bochechou com o melhor antisséptico que possuía e agora sim, estava pronta; saiu. A meio caminho o relógio era verificado a todo instante; haviam marcado para o meio-dia. – Horário estranho, refletiu. – Mas não cabia agora questionar o combinado, até porque ele dissera que era o único tempo que teria disponível naquele dia. Chegou; estacionou. Dirigiu-se ao local previamente acertado. Aproximaram-se e mutuamente beijaram-se no rosto. Convidou-a a entrar, o que ela de imediato aceitou. Sugeriu que ela sentasse e relaxasse enquanto ele iria ao banheiro; que logo estaria de volta. Retornou, e com toda a experiência que a vida lhe proporcionara, observou-a e viu que ela estava reclinada sobre a cadeira e com os olhos fechados, tranquila e serena como desejava encontrá-la. Silenciosamente, contornou-a e delicadamente sussurrou em seus ouvidos, pedindo que ela permanecesse daquele jeito, com os olhos fechados e que tudo ficaria bem. De início ela assentiu, mas repentinamente um instinto de autopreservação assaltou-lhe o espírito e confidenciou que por ser a sua primeira vez, gostaria que ele fosse sensível e delicado para que aquele momento não fosse marcado por um trauma. Ele sorriu, afagou-lhe os cabelos, a face e com a maestria que lhe era peculiar afastou-lhe os lábios e...A primeira sensação foi de ardência seguida de anestesia. Ela não pôde dizer que em algum momento sentira algum espasmo, nem mesmo dor. A impressão era de que havia um vazio.
Pronto. Não foi tão ruim assim. Estava terminado. O dente foi finalmente extraído.