quarta-feira, 18 de março de 2009

De Boca a Boca

Não foste tu que imploraste por liberdade?
Pensavas estar impedida de falar em tua própria morada,
onde a angústia daquele silêncio ensurdecedor tua boca calava?
Por que agora te lamentas? Não gostaste do que te mostraram?
Ou foi mesmo aquela primeira porrada que em ti ensaiaram?
Afinal não precisavas ao mundo chegar, berrando e a todos alarmar.
Ora, se só um tapinha foi, por que tanto a reclamar?
Sugiro que calada permaneças e que assim fique bem entendido.
Observe e aprenda; tua hora há de chegar.
Lembro-te ainda que à tua morada ansiarás retornar.
Por ora, dessa liberdade apenas sinta o sublime paladar.

Hoje, olho-te e vejo uma boca risonha a se mostrar.
Mais birrenta e falastrona com muitos impropérios a bradar.
Fantasias brindam teu momento singelo e singular.
Ah! Inocentes e incautos. Por certo haverão de perdoar.

Encontro-te agora e noto mudanças evidentes.
Uma nova vibração, um brilho, uma sexualidade iminente.
Audaciosas palavras por ti deverão ser proferidas.
E junto a elas teus devaneios serão esvaídos;
De fato uma descrença descabida.
Meias palavras não te bastam, notória é tua boca altiva.
Cautela urge; bocas rebeldes advêm fatídicas.
Inebriantes ósculos mil bocas sedentas te suplicarão.
Momento único, pura orgia. Mágica química da transformação.

Boca madura e destemida, teu caminho já se faz notar.
O fruto de tua existência marcante clama por despontar.
De teu encargo maior, bocas outras vão carecer.
Atenção redobrada! É vida nova a transcorrer.
Não te atormentes caso insegurança venhas revelar.
Fases como essa haverás de passar.

Boca anciã, desditosa e exilada.
Ninguém te escuta, ninguém te ouve, ninguém te fala.
O tempo urge, a vida passa e a tua boca cala.
Ensandecida, tentas ainda te aprumar.
Alento incapaz, boca insípida e velhusca!
Ao menos fosses capaz, o que te resta é orar.