quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mistério no túmulo

No túmulo, a lápide definiu:
“Aqui jaz quem já morreu”.
Irado, o cataléptico sumiu.

Inconsequente

Nasceu, cresceu, ofendeu.
No deleite, procriou; ignorou.
No anonimato, pereceu.

domingo, 10 de maio de 2009

Estigma

Optou por um trabalho de vida fácil, que na verdade era muito duro, e coloca duro nisso. Mas, cicatrizes à parte, literalmente nunca permitiu que aquela profissão lhe estigmatizasse a honra. Eternamente gueixa.

sábado, 9 de maio de 2009

Dos objetivos

Os meios que precederam o fim, por fim lhe afloraram os tormentos.

Carta a Machado de Assis

Ilmo senhor Joaquim Maria Machado de Assis.
As razões que me levam a redigir esta missiva são duas. Uma primeira, de conteúdo auspicioso e porque não dizer de júbilo, que decerto está causando rebuliço entre aqueles que se deixam embevecer pelas obras dos grandes escritores. E uma segunda, onde o alvissareiro passa ao largo da razão; se bem me faço entender. Cada uma, no seu devido tempo, será abordada para melhor elucidar as suas, das razões é claro, intenções.
Meu caro Machado, tu que foste um mestre da psicologia humana, haverás de me perdoar pela irreverência deste tratamento na segunda pessoa, que ora me permito utilizar. Na verdade, se assim o faço, é por acreditar que essa pretensão é capaz de me fazer aproximar da tua aquiescência para com as minhas intenções, uma vez que nunca tomaste conhecimento deste “louco” que ora ousa dirigir-te a palavra.
Tantas são as emoções que me arrebatam neste momento, que terminei por me esquecer das apresentações. Digo agora, sem receios, em primeira intenção o que não sou, e por fim, o que sou. Tenho a plena convicção de que não me encaixo no grupo de indivíduos que por razões mercenárias ou profissionais fazem da literatura um meio de vida. Tampouco me aproximo daqueles passionais que transcendem a realidade ficando apenas à mercê de um fútil mundo literário onde apenas o imaginário prevalece. Um ou outro, não me cabe analisar. Deixo este encargo a teu julgamento, porque em se tratando de assuntos que envolvem a alma humana, tu és um verdadeiro “connaisseur” (permito-me utilizar o francês porque sei que tu eras um amante deste idioma). E para concluir este capítulo, o das apresentações, te deixo saber que sou um cidadão, um homem, enfim um chefe de família e pai de dois filhos que ultimamente anda deveras preocupado com o rumo e os caminhos tortuosos que nossa língua portuguesa está a percorrer. Agora mesmo já te explico os motivos de tanta agonia.
Para um bom entendimento do que vou expor, é necessário voltar no tempo para que possamos estabelecer um paralelo com o que ocorre nos dias de hoje. Senão vejamos: em tempos idos, prevalecia neste país uma doutrina de ensino, da qual tive ainda o privilégio de ser contemplado, onde o aluno era simplesmente aluno e o professor exercia soberanamente a sua função, ou seja, ensinar. Lembro-me que nessa época, ao aluno do ensino básico era dada a oportunidade de ler textos de escritores consagrados da literatura de língua portuguesa (foi quando li, pela primeira vez, vários de teus textos) e muitas vezes os líamos dentro da sala de aula, quando então éramos arguídos pelo professor, que assim podia avaliar o ganho de compreensão e o raciocínio de seus alunos, além de estimular o gosto pela leitura, fator de suma importância na formação acadêmica de qualquer indivíduo. Por outro lado, a distância entre aluno e professor era mantida e respeitada dentro de limites aceitáveis; a palmatória, castigos mais severos, tal qual ficar ajoelhado sobre o milho, esses já haviam sido abolidos como forma de punição ao aluno mais rebelde. Nada mais justo, afinal de contas mudanças se faziam necessárias para acompanhar conceitos mais modernos em um mundo em constante evolução. O Homem viajava até a lua; um pouco antes disso surgia aqui no Brasil, a televisão - máquina de fazer malucos e transformar cidadãos quase normais em idiotas (esse conceito não é meu, porém concordo plenamente com ele) - e outras modernidades que com certeza não fizeram parte de teu tempo. E mais, da década de oitenta (se a memória não me trai, foi nessa época) para os dias atuais, uma outra fantástica máquina, o computador, vem ganhando espaço dentro do país com uma velocidade de fazer inveja a qualquer maratonista. Trata-se de um aparelho que tem por finalidade facilitar a comunicação entre as pessoas, a ponto de dois indivíduos poderem estabelecer um diálogo em tempo real, mesmo estando eles em polos opostos no planeta (para simplificar e facilitar o teu entendimento, basta imaginar um telégrafo e suas utilidades; isto feito multiplique por mil e tu verás a serventia de um computador).
Em decorrência do acima exposto podemos dizer que muitas coisas foram eficientes em sua evolução natural e outras nem tanto, por exemplo, a relação aluno-professor e vice-versa está por muito comprometida, a tal ponto que frequentemente somos notificados que professores foram ameaçados fisicamente por alunos. Por outro lado muitos desses mestres não se dão o devido respeito, ao participarem de rodas de alunos, facilitando uma aproximação extracurricular de natureza duvidosa. Aquela televisão de que te falei não desempenha, na educação, um papel efetivo, uma vez que os programas educativos são apresentados em horários completamente descabidos com relação ao tempo diário disponível dos estudantes. O tal computador, que poderia ser uma arma valiosa no ensino, é muito mal empregado nas escolas, mesmo naquelas que o possuem. Para agravar o problema, a linguagem usada como veículo de comunicação neste aparelho é tudo que se possa imaginar, exceto a língua portuguesa. Decerto haverás de me perguntar quais as providências que as autoridades constituídas tomaram em relação a esta desordem. Antecipadamente já te posso responder que nenhuma. Para não ser completamente injusto, conto que eles resolveram fazer uma reforma ortográfica na nossa língua, reforma esta, se a memória não me trai, já vem sendo programada faz pelo menos vinte anos (não penso que esta seja a solução para tais problemas). Para complementar este caos, não poderia deixar de citar o quanto os professores andam insatisfeitos com suas remunerações (tenho pena dos coitados, andam a mendigar); na verdade posso te dizer que ao longo de toda a minha existência, nunca ouvi da boca de qualquer governante ou político ao menos a intenção honesta de resolver esta justa reivindicação.
E onde posso eu entrar nessa história que estás a me relatar? Esta é a pergunta lógica que tu haverás de fazer depois de tudo que te passei.
Confesso-te que o motivo real de pretender te envolver nesses problemas é por acreditar que somente alguém dotado de uma inteligência superior possa nos ajudar (esse superior não faz referência à tua condição atual moradia), e mesmo porque tu foste um daqueles que sempre amou e fez questão de preservar a nossa língua, durante o tempo que passaste aqui na Terra. O que te peço é simples. Que de alguma forma descubras um meio de nos enviar alguma mensagem elucidativa para que possamos resolver os problemas os quais relatei, porque com os intelectuais daqui a esperança já não resta. Caso não esteja ao teu alcance resolver pessoalmente a questão, peça que Ele interfira a nosso favor; não sei como funciona a hierarquia aí em cima, mas de qualquer modo acredito que tu desempenhes uma nobre função, bem próxima a Ele, quem sabe um assessor de imprensa ou qualquer coisa que a isto se assemelhe.
Se por alguma razão receberes esta carta (missiva) com atraso além do previsto, não te surpreendas, isto porque os funcionários dos Correios entraram em greve por mais uma vez. Além disso, quando lá estive, questionaram o teu endereço e o CEP. O que tenho sob a minha guarda é: Rua dos Mestres, Ala dos Romancistas, Bairro Paraíso, Céu. CEP: nº infinito (faça a correção caso eu tenha me equivocado).
Sem mais, humildemente te peço que recebas estas mal traçadas linhas e dentro do possível responda num curto espaço de tempo.
Rio de janeiro, 19 de novembro de 2008. Beto Guimarães
Em tempo: Quase me esqueço de mencionar que por aqui estamos “festejando” cem anos do teu passamento. Muitos eventos literários estão agora a lembrar de ti e da tua inesquecível obra.

sábado, 2 de maio de 2009

O condenado

Ao longo de toda a sua fracassada vida tentou parodiar Cesar ( Caius Julius Cesar- 47 A.C –“Veni, Vidi, Vici” ).
Como sempre, chegou atrasado; perdeu.